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Writer's pictureAndreia Simas

Quanta coisa cabe num porão?

Deixei de ser a estranha, a que ninguém sabia da onde era, quem era, que marcas trazia, que música fazia dançar compulsoriamente. Passei de ser a que veio de fora, a ser a que nasceu de dentro, apesar de ainda não me parecer com nada, nem ninguém.


Um mistério intrigante? Interessante? Talvez. Essa sou eu agora. Um mapa a desvendar. E olha, eu sou boa me localizando sozinha, mas me custa entender os mapas.


Eu voltei para casa com mais medo do que alívio. Afinal, eu tinha que encontrá-la primeiro. E ainda não o fiz. Eu voltei às cegas, às escuras. Só sabia onde aterrizaria e nada mais. Sabia também que precisava me movimentar até conseguir escutar minha alma.


O tempo fora, assim como a volta às escuras, me trouxe um reconhecimento profundo de mim mesma. Processo esse que sinto que apenas se apresenta. O show mal começou.


Ainda faltam muitos sinais de trânsito, palavras em letras garrafais, olhares, paredes descascadas, cheiros e vozes pelo caminho que me levará até mim. Caminho sabendo que as partes de mim que faltam, que doem, jamais serão preenchidas daquilo que me foi retirado.


Mas agora, esse espaço vazio quer, ardentemente, ser ocupado. E isso é novo. Estou me desapegando da falta.


Meu buraco quer ser preenchido. Explorado. Conhecido.


Quanta coisa cabe num porão?



4 de maio de 2024

São Paulo, SP

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